Na segunda metade do século XIX houve na Europa uma febre em torno da cultura a da arte japonesa. As xilogravuras coloridas orientais que Vincent conheceu em Antuérpia tiveram uma influência decisiva na sua estética e nos seus sonhos.

Flores de Amendoeira, pintura de Van Gogh
Flores de amendoeira, 1890, 73.3 cm x 92.4 cm, Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation). Pintada em seu último ano de vida, esta tela foi dada de presente ao irmão quando do nascimento de seu filho, que foi batizado com o mesmo nome do tio, Vincent Willem van Gogh. Ela ilustra bem a permanente influência do traço, da cor e da composição das gravuras japonesas

"Caro irmão, me sinto no Japão", escreveu Vincent ao irmão Theodorus em março de 1888, logo depois de mudar-se para Arles, no sul da França, após passar dois anos em Paris.

Em junho do mesmo ano, escreveu a outros pintores impressionistas algo como: "Gostaria que vocês passassem um tempo aqui, vocês poderiam sentir tudo isso. Em pouco tempo nossa visão se modifica e passamos a ver com um olhar mais japonês, percebendo a cor de uma outra maneira".

Autorretrato de Van Gogh com curativo na orelha
Autorretrato com a orelha enfaixada, pintado em Arles em janeiro de 1889. Ao fundo, uma xilogravura japonesa pendurada na parede

Essa inspiração, essa fantasia, essa idealização em torno da atmosfera estética japonesa se devia à grande influência que as gravuras japonesas tiveram sobre Van Gogh. Na segunda metade do século XIX havia na Europa uma febre em torno da cultura a da arte japonesa. As docas de Antuérpia, cidade portuária na Bélgica, viviam repletas de mercadorias japonesas, e Vincent morou lá em 1885, e foi lá que conheceu as xilogravuras coloridas orientais. Chegou a adquirir uma grande quantidade delas quando, mais tarde, mudou-se para Paris, onde esse fascínio cresceu ainda mais. Pretendia revendê-las, mas apaixonou-se por elas e as guardou até o fim da vida, utilizando-as como inspiração e estudo, fazendo cópias e imitando os traços e a composição dos gravadores japoneses.

Em julho de 1888 escreveu ao irmão que "todo meu trabalho é baseado até certo ponto na arte japonesa." Uns meses depois escreveu:

Eu invejo os japoneses, a extrema luminosidade que tudo no trabalho deles tem. Nunca fica monótono e nunca parece ter sido feito às pressas. O trabalho deles é simples como respirar, e eles fazem uma figura com poucos traços e com segurança, e com a mesma facilidade com que abotoamos um colete.

O enquadramento que vemos em Flores de Amendoeira fugia completamente aos padrões ocidentais, mas era usual na arte japonesa, assim como a ausência de um horizonte na pintura. Não só Van Gogh, mas muitos outros artistas europeus começaram desafiar o enquadramento e a perspectiva tradicionais por causa da influência oriental.

Quando foi morar em Arles, Vincent deixou sua coleção de gravuras japonesas com o irmão. Ele já não precisava delas para inspirar-se, pois já havia aprendido a olhar as coisas com um "olhar japonês".

Algumas gravuras da coleção de Vincent, hoje propriedade do Museu Van Gogh:

gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa
gravura japonesa



Abaixo, duas pinturas de Vincent van Gogh que ilustram bem como seu traço foi contagiado pela estética japonesa.

pintura de Van Gogh
Borboletas e papoulas, óleo sobre tela, 1889, 35 cm x 25.5 cm, Museu Van Gogh, Amsterdam
Cortezã (baseado em Eisen), óleo sobre tela, 100.7 cm x 60.7 cm. Créditos: Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation). Para pintar esta tela, Van Gogh inspirou-se em uma xilogravura do artista japonês Kesai Eisen que foi capa da revista Paris Illustré em 1886. Os contornos definidos e as cores puras e chapadas remetem mesmo à técnica da xilogravura.

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