Na segunda metade do século XIX houve na Europa uma febre em torno da cultura a da arte japonesa. As xilogravuras coloridas orientais que Vincent conheceu em Antuérpia tiveram uma influência decisiva na sua estética e nos seus sonhos.
"Caro irmão, me sinto no Japão", escreveu Vincent ao irmão Theodorus em março de 1888, logo depois de mudar-se para Arles, no sul da França, após passar dois anos em Paris.
Em junho do mesmo ano, escreveu a outros pintores impressionistas algo como: "Gostaria que vocês passassem um tempo aqui, vocês poderiam sentir tudo isso. Em pouco tempo nossa visão se modifica e passamos a ver com um olhar mais japonês, percebendo a cor de uma outra maneira".
Essa inspiração, essa fantasia, essa idealização em torno da atmosfera estética japonesa se devia à grande influência que as gravuras japonesas tiveram sobre Van Gogh. Na segunda metade do século XIX havia na Europa uma febre em torno da cultura a da arte japonesa. As docas de Antuérpia, cidade portuária na Bélgica, viviam repletas de mercadorias japonesas, e Vincent morou lá em 1885, e foi lá que conheceu as xilogravuras coloridas orientais. Chegou a adquirir uma grande quantidade delas quando, mais tarde, mudou-se para Paris, onde esse fascínio cresceu ainda mais. Pretendia revendê-las, mas apaixonou-se por elas e as guardou até o fim da vida, utilizando-as como inspiração e estudo, fazendo cópias e imitando os traços e a composição dos gravadores japoneses.
Em julho de 1888 escreveu ao irmão que "todo meu trabalho é baseado até certo ponto na arte japonesa." Uns meses depois escreveu:
Eu invejo os japoneses, a extrema luminosidade que tudo no trabalho deles tem. Nunca fica monótono e nunca parece ter sido feito às pressas. O trabalho deles é simples como respirar, e eles fazem uma figura com poucos traços e com segurança, e com a mesma facilidade com que abotoamos um colete.
O enquadramento que vemos em Flores de Amendoeira fugia completamente aos padrões ocidentais, mas era usual na arte japonesa, assim como a ausência de um horizonte na pintura. Não só Van Gogh, mas muitos outros artistas europeus começaram desafiar o enquadramento e a perspectiva tradicionais por causa da influência oriental.
Quando foi morar em Arles, Vincent deixou sua coleção de gravuras japonesas com o irmão. Ele já não precisava delas para inspirar-se, pois já havia aprendido a olhar as coisas com um "olhar japonês".
Algumas gravuras da coleção de Vincent, hoje propriedade do Museu Van Gogh:
Abaixo, duas pinturas de Vincent van Gogh que ilustram bem como seu traço foi contagiado pela estética japonesa.