Os restauradores dizem que o poliéster é muito superior ao linho e ao algodão em durabilidade e estabilidade. Mas alguma coisa me incomoda na brancura artificial dessa tela.

Experimentei usar tela de poliéster pela primeira vez em 2011. Comprei um tecido Oxford em uma loja de tecidos para vestuário. A trama é suficientemente fechada e a textura assustadoramente uniforme. É muito, muito fácil de esticar e de preparar a tela. Não precisa nem lixar e permanece bem esticada independentemente de umidade, calor, frio, etc, tanto durante a preparação quanto depois de pronta. É muito bom de pintar a óleo depois de algumas camadas de gesso acrílico: a textura uniforme favorece bastante o trabalho detalhado.

Essa textura excessivamente uniforme, porém, desagrada a quem quer ver aquela tradicional textura meio irregular das telas de linho.

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Até o momento em que escrevo isso, pintei poucos quadros com tela de poliéster. Os restauradores dizem que é muito superior ao linho e ao algodão em durabilidade e estabilidade. Mas alguma coisa me incomoda nesse tecido. Talvez seja só o costume, mas olhando o verso da tela, não me sinto seguro quanto à durabilidade desse material sintético excessivamente branco.

Além disso, é possível que haja inúmeros tipos de poliéster no comércio, fabricados de inúmeras maneiras diferentes. Como saber qual deles realmente resistirá ao teste do tempo? Se é que algum vai mesmo resistir... Estou falado de tecidos que são vendidos em lojas de tecidos e fabricados para confecção de roupas e não para telas de pintura. No exterior se encontra, em algumas casas de materiais artísticos, tecidos de poliéster (com ou sem imprimação) que se dizem fabricados especificamente para arte, mas costumam ser mais caros que linho.

Minha segunda experiência com tela de poliéster é atual, ainda está em curso. No início de 2020 comprei, na Koralle, um rolo Talens já imprimado que ainda estou usando.

Um aspecto positivo é a perfeita combinação de flexibilidade (não craquela de jeito nenhum) e elasticidade. No caso, a elasticidade é praticamente zero, o que é ótimo para a tinta a óleo.

Mas eu esperava um pouco mais de qualidade quando fiz a compra. O tecido usado (que pode ser visto nas bordas sem imprimação) tem a trama um pouco aberta, meio frouxa. E a imprimação apresentou defeitos em vários trechos. Perdi alguns pedaços grandes por causa desses defeitos. Além disso, a tela, estranhamente, depois de esticada, muitas vezes fica frouxa, me obrigando e re-esticá-la. Ainda não entendi o que causa isso, se são as variações de temperatura e umidade do ar ou se é o gesso acrílico que aplico, em duas ou três camadas, em cima da imprimação original, que acho lisa demais (para o meu gosto).

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Ainda estou tentando descobrir como e por que o verso da tela tem essa cor que parece querer imitar linho.

Enfim, se alguém me perguntasse se eu recomendaria essa tela da Talens, eu diria que não. São muitos defeitos para pagar um preço tão alto. Eu esperava mais desse fabricante, de cuja tinta a óleo Rembrandt gosto muito (algumas cores...).

Atualmente, minha tendência é voltar a usar apenas algodão. Nos Estados Unidos encontram-se alguns tecidos de algodão (cotton duck) excelentes, limpos e com a trama extremamente fechada. No Brasil, há algumas opções razoáveis. Para telas pequenas é perfeitamente possível usar aquele algodão brasileiro bem fino (algodãozinho), desde que seja limpo (sem pontos pretos/marrons) e com a trama bem apertada. Para telas de tamanho médio ou grande, porém, ele já fica muito frágil, e tem-se que optar por lonitas, lonas e sarjas de algodão cru, alguns dos quais são de qualidade muito boa.

Melhor mesmo seria usar linho, mas um linho de qualidade com a trama e a textura adequadas para o meu trabalho tem um custo, no momento, proibitivo. Praticamente o mesmo se pode dizer de uma boa tela de poliéster importada já imprimada.

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