Descrevo aqui alguns detalhes sobre o meu processo de pintar e de desenhar e sobre os materiais que uso.

Não importa a forma de aplicar a tinta, desde que se esteja dizendo alguma coisa. Jackson Pollock

Tela

Uso telas de linho ou de algodão que eu mesmo estico e preparo com gesso acrílico. Antes de esticar, gosto de lavar o tecido com água morna para retirar a goma que, por alguma razão, os fabricantes quase sempre acrescentam ao tecido. Antes de aplicar o primer (o gesso acrílico), prendo a tela a um chassi provisório medindo uns dez centímetros a mais que o tamanho pretendido do quadro. Quando a superfície está do meu agrado, retiro os grampos, corto as bordas e re-estico no chassi definitivo. Assim obtenho uma superfície perfeitamente uniforme, sem diferenças de textura nas proximidades das margens da tela.

Sempre preferi usar chassis de cedro expansíveis, com cunhas, mas ultimamente, pela dificuldade de encontrar quem os fabrique, estou tendo que usar chassis fixos e de madeiras inferiores.

Estou acostumado a usar telas com uma textura muito peculiar: áspera e granulosa, semelhante a uma lixa grossa. Gosto do efeito meio fosco que a pintura ganha graças a essa textura. Para obtê-la fico passando demoradamente um rolo de pintura de parede nas camadas superiores do primer até quase secar. Mas antes de usar o rolo, aplico com pincel diretamente sobre o tecido uma ou duas camadas razoavelmente diluídas de gesso acrílico, que são lixadas para retirar as irregularidades do tecido. Depois aplico com rolo mais umas três ou quatro camadas, lixando cada uma de forma que somente um pouco da trama do tecido ainda seja visível. Então, ainda com o rolo, acrescento mais uma ou duas camadas sem lixar. Gosto de deixar a textura do tecido aparecer um pouco após a última camada, mas nem sempre isso acontece.

Às vezes aplico sobre a tela branca uma camada colorida de tinta acrílica bem diluída (Golden Fluid, de preferência), de um amarelo escuro ou laranja o mais intenso possível (por exemplo, pigmentos orgânicos Arylide, Pyrazolone, Naphtol, etc). É sobre essa imprimatura luminosa que esboço ou decalco a partir de um esboço em papel as formas com carvão ou grafite para depois pintar. Outras vezes, em vez da imprimatura uniforme, uso cores locais com tinta a óleo e/ou alquídica, diluída com algum médium alquídico de secagem rápida.

foto: mediuns

Pincéis, Tintas, Médiuns

Minhas tintas a óleo são de várias marcas profissionais: Winsor&Newton, Rembrandt, Gamblin, Utrecht, Maimeri, Grumbacher, etc. Os pincéis que mais utilizo são os de "pelo de porco", desde os mais baratos das marcas Condor e Tigre (muito comuns no Brasil, com cabo amarelo) até os melhores pincéis de cerda chinesa importados (Isabey, Winsor&Newton, Utrecht, DickBlick, etc). Para detalhes gosto muito dos Sable ou Kolinsky quadrados da Utrecht, DickBlick e Trekell. Raramente uso redondos.

Minha paleta é, basicamente, verde de ftalocianina PG7 e PG36 (W&N e Rembrandt), amarelos de cádmio escuro, médio, claro e limão PY35 (prefiro os da W&N), vermelhos de cádmio escuro, médio e claro PR108 (várias marcas: W&N, MGraham, Maimeri e Holbein), púrpura de cádmio (um excelente cádmio escuro da Rembrandt), quinacridona PV19 (às vezes o "Primary Magenta" da Maimeri, ou o Permanent Rose da W&N, ou outros), magenta de quinacridona PR122 (o melhor que já vi é fabricado pela Gamblin), violeta de dioxazina PV23 (também Gamblin), azul de ftalocianina PB15 (W&N, Rembrandt e Utrecht) e o branco de titânio (Rembrandt ou Winsor&Newton são os que normalmente uso). Nunca uso pigmentos pretos (lição dos impressionistas), e às vezes uso terras como experiência, mas normalmente não me sinto bem com estes pigmentos.

foto: tubos de tinta

Natureza-morta

Quando vou pintar uma natureza-morta, posiciono as frutas e os outros objetos que uso como modelo sobre uma mesa grande, especialmente adaptada para isso, com possibilidade de regular a altura e a incidência da luz. Vou arranjando-os até conseguir uma composição interessante. Como a luz é fundamental, o posicionamento da luminária também tem que ser cuidadosamente configurado.

Muitas vezes a composição já está definida, ou quase, em pequenos esboços que faço previamente, com lápis e papel. Quando estou satisfeito com o arranjo dos modelos sobre a mesa, faço um esboço bem detalhado, no tamanho do quadro final, em papel fino, que depois decalco na tela. Então faço uma pré-pintura para o fundo e outros elementos secundários (pano, papel, pedra...) com tinta à óleo bem diluída (como uma aquarela) em cores locais, deixando em branco o espaço exato dos elementos terão maior luminosidade. Nestes procuro manter a tinta em uma única camada fina, ou, como disse acima, esboço-os com cores intensas bem diluídas.

No decorrer da pintura muitas vezes as frutas apodrecem, e, sendo difícil repô-las, já que uma fruta nunca é igual à outra, tenho que terminar usando a memória e/ou fotos. Quando termino de pintar os elementos não perecíveis e o fundo, as frutas quase sempre estão podres.

Um item essencial à minha técnica de pintura das naturezas-mortas "hiper-realistas" é o óleo de cravo. Este, apesar do nome, não é um óleo, mas um diluente que tem a característica de evaporar de forma extremamente lenta, com isso retardando a secagem da tinta a óleo, o que me permite trabalhar, por exemplo, em uma maçã durante 4 ou 5 dias sem que a tinta seque antes de eu ter concluído o trabalho. Com a secagem normal da tinta, eu teria que acumular camadas e assim perderia o frescor e a luminosidade da fruta. É diferente nas nas partes do quadro que precisam ser pintadas em várias camadas superpostas, como vidros, por exemplo — transparências em geral. Aí uso mediums alquídicos para acelerar a secagem.

Há quem alerte para o fato de o óleo de cravo deixar a película de tinta a óleo quebradiça. Mas isso só acontece se for usado em demasia, pois é um diluente e, como tal, reduz a proporção de óleo da tinta. Isso acontece com qualquer diluente. Para garantir a durabilidade do quadro, sempre que uso óleo de cravo acrescento óleo de papoula e uma pequena quantidade de resina (alquídica ou outra).

Paisagem

As paisagens são esboçadas diretamente na tela, com carvão, a partir de fotos que faço. Procuro pintar úmido-sobre-úmido, formando uma única camada, e para consegui-lo uso tintas de secagem lenta (cádmios, quinacridona, dioxazina, branco de titânio) acrescidas de uma quantidade mínima de óleo de cravo. Uso uma paleta bem reduzida: verde de ftalocianina, amarelo de cádmio médio, magenta de quinacridona, violeta de dioxazina) e branco de titânio. Raramente uso azuis, mas quando o faço costuma ser de ftalocianina.

Desenho

Meu método de desenhar é o mais simples possível. Normalmente apenas uma camada de grafite que depois é protegida com fixativo. Não gosto muito de esfumar, mas quando o faço uso pedaços de pano, papel toalha e alguns pincéis. Prefiro deixar os traços de lápis levemente visíveis, para que a textura não resulte monótona. Mas estou experimentando com algumas novas texturas, mais fundidas. Uso muito borrachas modeláveis (kneaded erasers) e também borrachas de vinil.

Os papéis que tenho usado são Canson Mi-Tientes, Fabriano Artistico acetinado (100% algodão) e Fabriano Edition, e os lápis, cujas graduações variam de 2H a 9B, principalmente de 4B a 6B, são das marcas Tombow Mono e Staedtler Mars Lumograph, e o 9B é da Faber-Castell Pitt.

materiais de desenho

No comments

Deixe seu comentário

In reply to Some User

Press F10 to toggle Full Screen editing.